As Alcunhas

Ainda que as alcunhas ou os apelidos se apliquem na generalidade mais a pessoas singulares, não raras vezes elas também se referem a populações e na sua génese há quase sempre uma determinada particularidade que se individualiza, seja ela de natureza socio-cultural ou económica, seja ainda devido  a acontecimentos marcantes.
Na maior parte dos casos, infelizmente, encontram-se associados a significados depreciativos e, como tal, nunca bem aceites pelas populações visadas.
Sendo assim, é natural que a sua utilização, só é feita quando se pretende denegrir a imagem dos elementos dessa população ou, pura e simplesmente ridicularizá-la, o que tem naturalmente a ver com o contexto e a forma como é feita.
Tal como acontece com outras freguesias da Madeira, veja-se por exemplo os casos dos “profetas” e “burreiros”, associados ao Porto Santo e Caniçal, os habitantes da freguesia de Câmara de Lobos, também têm alcunhas, destacando-se, no entanto, de entre ela a classe piscatória ou dela originária, uma vez que é sobre ela que recaiem todas as alcunhas conhecidas, ainda que as pessoas tentem generalizá-las, não só a toda a freguesia como a todo o concelho.
De todas as alcunhas, a de xavelha é a mais conhecida e, também a mais depreciativa. Várias são as explicações dadas para fundamentar a origem deste termo, nomeadamente a sua ligação com um barco com a mesma denominação utilizado pelos pescadores de Câmara de Lobos.
Na ausência de outra versão melhor nada mais nos resta do que nos contentar com esta, apesar de não encontramos razão para se ter transformado num termo tão depreciativo.
Outra das alcunhas dos habitantes de Câmara de Lobos é a de Charnota ou Chernota. O padre Eduardo Clemente Nunes Pereira, na sua obra “Ilhas de Zarco”, explica que estas alcunhas teriam tido origem no facto dos pescadores camaralobenses utilizarem estes termos para denominarem os chernes pequenos, facto que depois levou a que passassem a ser gozados devido a essa terminologia.
Menos conhecido, mas constante da lista de alcunhas da população de Câmara de Lobos, estão ainda os termos “tangerino” e “pisquito”.
Tangerino tem naturalmente origem na palavra Tânger, e quererá traduzir a relação entre os traços fisionómicos de alguns pescadores locais e os habitantes de Tânger, ou do Norte de África, o que nos leva a admitir que alguns dos primeiros pescadores que se fixaram em Câmara de Lobos tivessem ascendência árabe.
Pisquito é um termo depreciativo relacionado com o pescador e cuja origem neste momento desconheço.
Naturalmente que apesar da freguesia de Câmara de Lobos reunir o maior e mais conhecido número de alcunhas do concelho, as freguesias do Estreito de Câmara de Lobos e Curral das Freiras não ficam isentas.
Assim no Estreito para além do epíteto de “faquistas”, que compartilham com a freguesia de Santo António e que surgiu em consequência da tendência algo anormal para utilização de facas e navalhas em rixas entre os seus habitantes, há também o de “fumeiro”, cuja explicação, poderá estar relacionada com o frequente nevoeiro que noutros tempos assolava esta localidade, ainda que haja quem defenda que tal epíteto se ficasse a dever à actividade de carvoaria.
No Curral das Freitas, a alcunha de “cabreiro”, assenta que nem uma luva, ou não estivesse esta freguesia desde o início ligado à pastorícia.

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