A época de trabalho
mais intenso é a que vai de meado de Julho a meado de Agosto. Todos
trabalham de manhã até pela noite adiante neste pobre lugarejo.
Todos, homens e mulheres, velho e crianças, ninguém esta
ocioso. Nestes dias não há desempregados, ninguém
pensa nas 8 horas de trabalho, privilégio das cidades e ainda bem,
porque se os agricultores seguissem essas modernas utopias, perdiam-se
grandes partes das suas colheitas. O relógio deles é o sol.
Os seus vigorosos braços é que lhes valem, o maquinismo que
tanto pão está roubando à humanidade, felizmente ainda
cá não chegou, é tudo primitivo.
O trigo é arrancado
à mão, espiga por espiga, como quem está pescando,
para não misturar com outras ervas que no meio dele nascem. Depois
é amarrado em pavias e posto a secar ao redor das eiras (sirvo-me
dos termos que o povo usa). Depois um grupo de homens sentados nas eiras,
assombradas geralmente por algum carvalho ou castanheiro, vão batendo
com um malho no maço, isto é um pedaço de madeira
rija com dois palmos de comprimento e dois de grossura, tendo uma terça
parte mais delgada que serve de cabo, vão batendo com ele nas espigas,
que estão seguras na outra mão, até sair o trigo e
o mesmo fazem à cevada e ao pouco centeio. Quando o tempo está
quente, tudo vai bem, mas quando está frio é maçar
as espigas e paciência.
Feito isto, então
uns 8 homens pegam nos manguais e vão batendo até esmagarem
as praganas e fazer sair algum grão renitente no casulo para então
quando correr vento separar o trigo por um processo muito pachorrento a
que chamam erguer o trigo, que consiste em ir levantando tudo aquilo aos
punhados para o vento levar os casulos e ir caindo o trigo. Trabalho fatigante,
que exige paciência beneditina, principalmente quando não
está vento, reservado às mulheres, bem como servir às
eiras, levando as paveias e trazendo a palha e por fim joeirar o trigo,
para ser guardado em caixas, onde o gorgulho, às vezes faz grandes
estragos.
Vejam lá quanto
custa um pedaço de pão ao laborioso agricultor e isto sem
falar no tamanho das terras e nos trabalhos das sementeiras, e ainda nas
caminhadas para ir aos moinhos, visto que no estio, não há
aqui água que os faça mover....