Banda
Recreio Camponês
Em 1910, como resultado
de desavenças no interior da Filarmónica Recreio dos Lavradores,
hoje Banda Municipal de Câmara de Lobos, nascia, em Câmara
de Lobos, uma nova Banda, a Filarmónica Recreio Camponês.
José Gonçalves
de Freitas, de 26 anos, comerciante no ramo de mercearia e então
músico dissidente da Filarmónica Recreio dos Lavradores soube
congregar a sua volta os contestatários e alguns músicos
na ocasião disponíveis e funda, no dia 1 de Dezembro de 1910,
a Filarmónica Recreio Camponês.
A sua primeira actuação
pública em arraiais aconteceria, contudo, só no dia 1 de
Janeiro de 1911, no Estreito de Câmara de Lobos, por ocasião
dos festejos em honra do Senhor Jesus .
Durante cerca de 10 anos
teve como sede o local da sua fundação, uma dependência
da casa pertencente ao pai do seu fundador e situada ao sitio do Caminho
Grande e Ribeira de Alforra, em Câmara de Lobos. Posteriormente muda-se
para a casa de José dos Santos, localizada no Lagar das Giestas
ao sitio da Quinta do Leme. Em Dezembro de 1936 passa-se para as instalações
que hoje ocupa, no mesmo sitio mas no lugar da Bela Vista.
 Apesar da força
de vontade e empenho dos seus elementos a «banda nova» como
era e é vulgarmente conhecida enfrentou inicialmente grandes dificuldades.
Não só os seus inimigos tudo tentaram para a destruírem
como ainda o seu fundador e principal impulsionador faleceria três
anos depois da sua criação. Com efeito,
desde a fundação
gerou-se um bairrismo exacerbado que colocava em constante confronto os
elementos e simpatizantes das duas bandas, então existentes em Câmara
de Lobos.
Por um lado estavam
os elementos e adeptos da Filarmónica Recreio dos Lavradores que
tentavam a todo o custo inviabilizar a fundação da nova banda
[...]; por outro estavam os elementos e simpatizantes da banda acabada
de nascer que tudo faziam para conseguirem a sobrevivência. Nos arraiais
onde as duas bandas se encontravam eram as provocações, as
ameaças, as partidas, os despiques musicais. E tudo isto era apoiado
ou reprovado pelos simpatizantes quer duma quer doutra banda, chegando
estes. levados pelo seu bairrismo exacerbado a provocarem-se, ameaçarem-se
e ate mesmo entrarem em confrontos físicos, às veres bastante
violentos.
Hoje o bairrismo continua
a existir, mas o relacionamento entre executantes e simpatizantes faz-se,
com raras excepções num ambiente de cordialidade. Após
a morte, em 30 de Novembro de 1913, do seu primeiro regente e que também
havia sido o seu fundador, a sucessão na direcção
artística da banda reflectindo o período conturbado que esta
atravessou, não foi fácil.
Até ser atingida
a estabilidade com a escolha, em 1920, de João de Ornelas Abreu,
então executante da banda, para regente, verificar-se-ia uma constante
entrada e saída de maestros. Assim entre finais de 1913 e 1920,
são referenciados: Sr. Costa, Guilherme Honorato Lino, Luís
Inácio Gonçalves, Artur Maria Lopes, este vindo da Filarmónica
Recreio dos Lavradores e Guilherme Graciano Nuno. Nos finais de 1930 a
Filarmónica Recreio e Camponês foi durante algum tempo, o
suficiente para o seu regente se deslocar a Lisboa a fim de adquirir novos
instrumentos, dirigida pelo maestro da Banda Municipal de Santa Cruz, Júlio
da Costa Cardoso.
Em 1972, a saúde
e idade avançada levam João de Ornelas de Abreu a passar
o testemunho da regência a João Figueira Quintal, seu pupilo,
e que ainda hoje se mantém em funções, apesar de em 1980/81
ter sido, por motivos profissionais, substituído interinamente pelo
sargento músico João Gomes Henriques de Sousa .
Como momentos altos na
vida da colectividade, e neste momento do nosso conhecimento, haverá
a destacar a participação,
em Junho de 1989, no II Encontro de Bandas de Portalegre.
A titulo de curiosidade
refira-se que, em 1930, recusou o titulo de Banda Paroquial de Câmara
de Lobos atribuído por deliberação camarária
de 21 de Março, na mesma ocasião em que à Filarmónica
Recreio dos Lavradores era concedido o de Banda Municipal. No dia 16 de Outubro
de 2011 foi alvo de
Louvor público por parte da Câmara Municipal de Câmara de Lobos.
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