Capela
de Nossa Senhora de Fátima

Capela
da invocação de Nossa Senhora de Fátima, situada nas imediações
do Cabo Girão, no Pico do Galo, freguesia de Câmara de Lobos e
conhecida por Cruz de Fátima [1].
A
primitiva capela em honra de Nossa Senhora de Fátima foi mandada
construir em 1931, pelo padre Agostinho Abreu Vieira, natural de Câmara
de Lobos e, na altura, missionário em Cabo Verde [2].
Estando
de licença em Portugal, visita em Abril de 1931 a Cova da Iria, em
Fátima e perante a Virgem Maria, promete erigir-lhe uma ermida com
sua invocação, no Cabo Girão, caso a revolta que então se estava
a verificar na Madeira, terminasse sem grandes estragos materiais ou
morticínios. Alcançada a graça, logo iniciou a sua construção,
sendo três meses depois, a 5 de Agosto lançados os alicerces e a 5
de Outubro concluída [3].
Com
5 metros de comprimento e três de largura, o seu custo rondou os
dez contos, suportados unicamente por ele, que também dirigiu a
obra e nela trabalhou como qualquer operário. O seu recheio,
nomeadamente alfaias e a imagem de Nossa Senhora de Fátima, foi
contudo oferecido por crentes [4].
À medida que os meses foram passando não só o recheio da capela
se foi enriquecendo, como os seus arredores foram alvo de alguns
arranjos. Assim, em Fevereiro de 1933 já se encontravam calcetadas
as escadarias de acesso à ermida, bem como o adro, obras que desde
a benção do templo vinham a fazer falta, como de resto também
acontecia com a construção de um fontenário, que saciasse a sede
aos inúmeros peregrinos que todos os meses ali se dirigiam, situação
que só vem a ficar resolvida em Agosto desse ano [5],
[6].
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A
sua sagração, ocorreu no dia 11 de Outubro de 1931, num acto
presidido por D. António Manuel Pereira Ribeiro e a que terão
assistido cerca de quatro mil pessoas, número que foi suplantado
nos dois dias seguintes. Depois de benzida, a capela passou a
constituir um centro de importantes peregrinações não só por
parte das populações limítrofes mas também de outros pontos da
ilha da Madeira que ali se deslocavam em excursões [7].
Mensalmente, nos dias 12 e 13 passaram a realizarem-se diversos
actos de culto, que mobilizavam sempre milhares de peregrinos e
chegou mesmo a ser publicado, em 1933, um folheto denominado Fátima
Madeirense [8], o que reflecte o desejo do seu promotor em fazer
daquele local um centro de culto similar ao da Cova da Iria.
A
vontade da transformação deste local num importante centro de
culto com pretensão de rivalizar com a Fátima da Cova da Iria também
está patente num projecto, que poderemos considerar megalómano, de
uma igreja em honra de Nossa Senhora de Fátima, que chegou a
existir para o local.
Segundo
o padre Agostinho Vieira perante
a crescente devoção do povo, ao ver que a ermida minúscula e o
vasto adro demasiado pequeno para conter a grande massa dos crentes,
se deliberou alargar o ambiente do actual local, construindo-se ali
um magnífico e amplo santuário. [...]
Toda a montanha em que está construída a capelinha se presta
maravilhosamente para um santuário em honra de Maria. No cume
ficaria o templo vasto com uma larga esplanada a servir de adro com
uma larga extensão dando dum lado sobre o panorama da costa oeste
da ilha até à Ponta do Sol, e do outro lado sobre a baía do
Funchal até ao Garajau. E na encosta convenientemente arborizada
construir-se-ia às voltas, em suave declive uma estrada, com as
estações da Via-Sacra como em Fátima e em Lourdes.
Em
1933 o prelado diocesano, apoiante ao que parece incondicional desta
iniciativa, chegou mesmo a dar licença para a construção, no
local, de uma igreja em louvor de Nossa Senhora de Fátima e a
exprimir o desejo na criação de uma nova freguesia que passaria a
denominar-se de freguesia de Nossa Senhora de Fátima, situação
reveladora da importância que esta devoção alcançou na Madeira [9],
[10].
A
onda de peregrinações que se gerou em seu redor, associada à devoção
a Nossa Senhora de Fátima, cedo originou por parte dos opositores
à igreja católica alguma contestação, até porque também cedo
se terão registado indícios de se procurar associar a este santuário
dons milagreiros. Disso aliás, no dia 8 de Fevereiro de 1932, dá
conta o jornal O Povo, num
artigo intitulado A ermida da
Cruz de Fátima, no Cabo Girão, é um posto médico - A doutora é
Nossa Senhora, o enfermeiro é o padre Agostinho Vieira. Ainda
que na altura este órgão de informação tivesse uma linha
editorial onde era patente uma forte hostilidade à igreja, é
admissível que certamente se terão registado situações menos
claras.
Por
outro lado, também no próprio seio da igreja, ter-se-á
verificado, um certo mal estar [11],
nomeadamente por parte dos responsáveis pelas paróquias vizinhas,
que para além de se sentirem à margem de toda esta iniciativa,
eram ainda confrontados com a debandada mensal dos fieis desde as
suas paróquias para o novo santuário.
Ainda
que desde a sua bênção e na ausência do seu fundador, tivesse
ficado a capela sob a protecção e responsabilidade do prelado
diocesano que, em 1932, chama mesmo a si a sua direcção
espiritual, para transformá-la num santuário diocesano [12],
a verdade é que problemas de alguma gravidade cedo a assombraram e
estiveram na origem do seu encerramento prematuro.
Com
efeito, em 1934, mais precisamente no decurso do mês de Março,
surge a notícia de que a ermida de Fátima, havia sido encerrada ao
culto pela autoridade diocesana [13].
Era
o fim de um projecto ambicioso e nem os abaixo-assinados, entretanto
efectuados, para a sua reabertura [14]
foram suficientes para demover o então responsável pela diocese na
sua posição, o que deixa antever a existência de problemas insolúveis
ou demasiado delicados.
Depois
de cerca de vinte de anos sem culto, em finais dos anos 50 a capela
de Nossa Senhora de Fátima volta a abrir a suas portas, desta vez já
sob a jurisdição da paróquia de São Sebastião de Câmara de
Lobos, situação que terá assim permanecido até 31 de Dezembro de
1960. Depois desta data, devido à criação de novas paróquias em
Câmara de Lobos, passa a ficar dependente da Quinta Grande.
Todavia,
tal como a quando da sua erecção, continuava sem condições para
albergar os inúmeros fieis e a necessidade da sua ampliação volta
a se impor. Por esse facto é em finais de 1974 iniciada a construção
de uma nova capela.
Apesar
de fisicamente humilde, a panorâmica que se pode desfrutar a partir
do seu adro é arrebatadora e por esse facto deveria obrigar os
responsáveis pela imagem turística madeirense a um contacto com a
Igreja, por forma a que sem prejuízo dos interesses eclesiásticos,
pudesse este local figurar nos roteiros turísticos regionais.
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