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Freguesia do Jardim da Serra
A freguesia do Jardim da Serra, tomou o seu nome na denominação da
quinta do Jardim da Serra, construída no século XIX, por Henri
Veitch no primitivo lugar da Serra, na freguesia do Estreito
de Câmara de Lobos.
Com efeito, ao construir a sua quinta no então lugar da serra, Henri
Veitch dotou-a de um sumptuoso jardim que passou a ser conhecido por
Jardim da Serra e que daria não só origem à denominação da quinta,
como das zonas limítrofes e viria a ganhar projecção regional e
internacional.
Com a elevação da zona alta da freguesia do Estreito à categoria de
freguesia
a opção de Jardim da Serra para sua denominação viria a se impor.
Criação da freguesia
A freguesia do Jardim da Serra foi criada a 5 de Julho de 1996, a
partir da desanexação da zona alta da freguesia do Estreito de
Câmara de Lobos, numa área e população correspondente à paróquia
de São Tiago, uma das quatro paróquias em que a freguesia do
Estreito havia sido dividido em 1961. Foi aliás um dos párocos desta
paróquia, o Pe. Mário Tavares
Figueira quem liderou o processo que haveria de
levar a população a lutar pela criação desta freguesia.
Área, limites, população e organização administrativa e religiosa
A freguesia do Jardim da Serra possui uma área de cerca de 7,14 km2 e
uma população de cerca de 3.700 habitantes. É limitada a Sul pelo
Estreito de Câmara de Lobos, a Norte pela Serra de Água e Curral das
Freiras, a Leste pela Ribeira dos Socorridos e a Oeste pelas
freguesias da Quinta Grande e de Câmara de Lobos.
Administrativamente compreende os sítios do Marco e Fonte da Pedra,
Corrida; Achada; Chote; Pomar Novo; Jardim da Serra; Luzirão; Fonte
Frade; zona norte do sítio do Foro e zonas norte das Romeiras e
do Cabo do Podão.
Em termos de organização religiosa, à freguesia do Jardim da Serra
corresponde a paróquia de São Tiago. Criada no dia 1 de Janeiro de
1961, a sua sede ficaria primitivamente instalada na capela do Foro,
sendo depois transferida para um novo templo construído no lugar
das Corticeiras, no sítio do Marco e Fonte da Pedra.
Património histórico
O património histórico da freguesia do Jardim da Serra restringe-se à
capela de Nossa Senhora da Consolação e à
Quinta do Jardim da Serra
Serra.
Igrejas, capelas e outras edificações religiosas
Como edificações religiosas, a freguesia do Jardim da Serra, possui
unicamente uma igreja, que serve de sede à paróquia de São Tiago e uma
capela, a capela de Nossa Senhora da Consolação, também conhecida por
capela do Foro, denominação da localidade onde está implantada.
A capela de Nossa Senhora da Consolação foi mandada edificar por
Gonçalo de Faria, de acordo com sua vontade expressa em
testamento de 12 de Abril de 1683, datando de 7 de Novembro de 1684 o
alvará de erecção de altar. Ainda que inicialmente a sua a invocação
fosse Nossa Senhora do Socorro, actualmente é seu orago Nossa Senhora
da Consolação, tendo os festejos em sua honra, lugar no dia 1 de
Novembro. Referências à invocação de São Tiago, como padroeiro desta
mesma capela são também encontradas, não porque alguma vez esta capela
tivesse tal orago, mas devido à importância do culto por parte da sua
população a este santo, o que de resto viria a condicionar a opção do
orágo para a paróquia.
A titularidade desta capela esteve na posse dos herdeiros do seu
fundador até 1850 altura em que era seu proprietário Francisco Correia
Herédia e foi a propriedade vendida em hasta pública a Francisco Pinto
Correia, que lhe terá feito obras. Posteriormente passou para a posse
Luisa Augusta de Ornelas, sua segunda mulher, não sem antes ter
pertencido a sua filha Deolinda Correia, entretanto falecida. Em 28 de
Agosto de 1912 a vasta propriedade onde estava implantada é vendida a
vários indivíduos, na sua maior parte colonos, ficando a capela, adro
e casa que lhe servia de sacristia, a pertencer a todos os compradores
na proporção das suas entradas para a compra da respectiva
propriedade.
Encontrando-se em avançado estado de degradação, foi esta capela ao
longo de 1960 e de 1961, alvo de reedificação. Entre 1 de Janeiro de
1961 e 6 de Abril de 1967 serviu de sede da paróquia de São Tiago, que
entretanto se transferiria para o sítio das Corticeiras, primeiramente
para umas instalações alugadas e adaptadas e depois para a nova
igreja paroquial.
Motivos de interesse
Os motivos de interesse da freguesia do Jardim da Serra vão sobretudo
para o seu valor paisagístico, destacando-se a esse propósito a
Quinta do Jardim da Serra Serra, construída por Henry Veitch, no
início do século XIX, e hoje transformada numa
unidade hoteleira e que constitui o seu ex-libris; a
Boca
dos Namorados e a Boca da Corrida Corrida, não esquecendo,
naturalmente as panorâmicas que poderão ser desfrutadas a partir dos
percursos pedestres susceptíveis de poderem ser utilizados até estes
locais.
O aspecto da imponente Quinta do Jardim da Serra, bem como a paisagem
circundante e a personalidade do seu primeiro proprietário, Henry
Veitch, cedo suscitaram a curiosidade das pessoas e a visita
obrigatória de todos quanto amavam a paisagem madeirense.
Nos jardins da quinta existe um mausoléu onde a tradição
popular diz se encontrar sepultado Henry Veitc juntamente com o seu
inseparável cão. Contudo, tal parece não corresponder à verdade
uma vez que, segundo o seu termo de óbito, terá sido sepultado no
Funchal, no Old Burial Ground e donde não há notícia de terem os seus
restos mortais transferidos.
Desde a Boca dos Namorados poderemos contemplar o Curral das Freiras a
partir da sua parte Sul, enquanto que dos miradouros da Boca da
Corrida, obteremos uma visão pelo lado oeste e nordeste daquele linda
freguesia.
É uma imagem diferente da registada desde a Eira do Serrado e que por
isso mesmo vale a pena desfrutar.
Em 1879 o poeta camara-lobense Joaquim Pestana descrevia a panorâmica
observada desde o Boca dos Namorados da seguinte forma: se subirmos
ao grande monte que domina a Boca dos Namorados, teremos uma vista não
menos majestosa e surpreendente. Para o sul, a distância talvez de
quinze quilómetros, descortina-se, visivelmente a encantadora cidade
do Funchal, embelezada pelo seu amplo porto, onde tremulam bandeiras e
galhardetes de varias nações amigas. Desta soberba eminência, a que
dão o nome de Pico dos Bodes, mais aprazível se torna a imponente
vista do Curral das Freiras. É impossível descrever-se a comoção que
nos causa aquela ingente profundidade, e também dali é curioso ouvir a
detonação dos morteiros disparados no chão do Curral [por ocasião
da festa de Nossa Senhora dos Livramento]. O som que nos parece de uma
peça de grande calibre, repete-se pelo eco cinco, seis e mais
vezes. O mesmo acontece, dizem, quando se desenrola qualquer trovoada.
Ainda relativamente à Boca dos Namorados, a sua localização
sobranceira ao Curral das Freiras e o facto de antigamente constituir
um ponto de passagem obrigatória no acesso a esta freguesia, fazia com
que na segunda-feira seguinte à festa de Nossa Senhora do Livramento orago da
paróquia do Curral das Freiras, ali se criasse um espaço de comércio e
diversão não só destinado aos romeiros vindos do Curral, de regresso a
suas casas como, para outras pessoas que, propositadamente lá se
deslocavam. Ainda segundo Joaquim Pestana, na Boca dos Namorados
assentam no dia 27 de Agosto, umas insignificantes barracas,
improvisadas com pinheiros e louro, onde os romeiros que vêm do
Curral, da festa do Livramento, saciam os seus vazios estômagos.
Noutros lugares, ainda não invadidos, colocam barracas
ambulantes, menos dispendiosas, que contém unicamente um barril
de vinho, de inferior qualidade, tendo por companheiros uns
inseparáveis copos de vidro. No meio daquelas, podemos dizer,
extravagantes barracas, e como matizando aquele enamorado sitio, vê-se
uma infinidade de cestos de fruta, com especialidade tabaibos, ameixas
e peras.
Não é menos interessante contemplar os vários grupos de camponeses
com seus fatos domingueiros, munidos da clássica viola de arame e
cavaquinho, a trovarem ao desafio, consistindo o prémio daquelas
lutas, muitas vezes saudadas pelos ouvintes, em um copo de vinho de
superior qualidade.
Ainda que se desconheça a verdadeira origem do epíteto Namorados
opoeta Joaquim Pestana refere que segundo a tradição para ali
viera umsujeito, por nome Pêro, que se enamorara de uma linda menina
chamada Ignez. Como Péro não lhe pudesse falar a cada momento, em
razão de viver separada por aquele abismo, fazia, qual outro Leandro,
acordar aqueles vales com o doce nome de - Ignez! que sempre lhe era
correspondido com o nome de - Péro!
Relativamente aos percursos pedestres susceptíveis de poderem
ser iniciados a partir desta freguesia, destacaremos o percurso entre
a Boca dos Namorados e o Curral das Freiras e o percurso entre a Boca
da Corrida e a Encumeada de São Vicente.
Actividades económicas
A actividade mais característica da freguesia do Jardim da Serra é a
agricultura, onde horticultura e a fruticultura, através da produção
de cerejas
e peros, assume papel de destaque.
A propósito da cereja convirá reforçar que a sua produção é
característica do Jardim da Serra, sendo o único lugar, onde, na
Madeira ela é produzida.
Também característica desta localidade, e em particular na propriedade
da Quinta do Jardim da Serra, foi durante muitos anos a produção de
uvas da casta sercial e cuja introdução poderá estar relacionada com
Henry Veicth, seu primeiro proprietário, que também nesta propriedade
procedeu ao cultivo de chá.
A actividade comercial, é também importante, particularidade que lhe
advém do facto de serem desta freguesia a maior parte dos
comerciantes ambulantes de fruta regional e não só. Outras actividades
como construção civil e serviços, ocupam grande número de habitantes.
Possui ainda localizada nesta freguesia uma unidade de produção de
brita e betume.
Festividades e iniciativas culturais
Anualmente realizam-se na freguesia do Jardim da Serra várias
iniciativas de índole recreativo-cultural e religioso, algumas delas
com interesse não só local, como regional. De entre esse eventos
destacamos a Festa das Cerejas Cerejas.
A festa das cerejas é a mais antiga festividades relacionadas com
frutos que se realiza na Madeira, remontando a 1954, o certame
inaugural. Tem lugar anualmente num dos primeiros fins de semana de
Junho. Relacionado, ainda com as cerejas realiza-se também anualmente,
pela Páscoa, ou seja por ocasião da floração das cerejeiras, uma prova
de atletismo denominada de “cross das cerejeiras em flor” e cuja 1ª
edição remonta a 1990.
Para além destas festividades profanas, as festividades religiosas
assumem na freguesia do Jardim da Serra grande importância.
De todas as festividades religiosas destacamos a festividade em
memória do seu orago que tem lugar no dia 1 de Maio e a festividade em
honra do Santíssimo Sacramento realizada no terceiro ou quarto domingo
de Junho.
Na capela do Foro, juridicamente dependente desta paróquia tem lugar
no dia 1 de Novembro a festa em honra do seu orago, Nossa Senhora da
Consolação e que em tempos mais recuados era também conhecida como
festa do pêro, dada a grande quantidade deste fruto que aparecia à
venda.
Estabelecimentos de ensino bibliotecas e complexos desportivos
A freguesia do Jardim da Serra para além de uma rede pública bastante
satisfatória e na sua maior parte moderna de estabelecimento de ensino
básico do 1º ciclo (ensino primário), possui ensino pré-escolar. Para
o ensino Básico do 2º e 3º ciclos, são utilizadas as infra-estruturas
localizadas na vizinha freguesia do Estreito de Câmara de Lobos.
Anexo à escola básica do 1º ciclo das Romeiras, esta freguesia possui
um complexo desportivo polivalente.
Instituições e Colectividades Recreativas, Culturais e
Desportivas
A freguesia do Jardim da Serra possui uma
Casa do Povo, fundada a 29
de Janeiro de 1997 e uma colectividades desportiva, a
Associação
Cultural e Recreativa do Jardim da Serra Serra, fundada a 10 de
Setembro de 1990.
Com a criação da Casa do Povo, a Associação Cultural e Recreativa do
Jardim da Serra, que no seu seio havia, em Junho de 1993, também
constituído um grupo de tocares e cantares tradicionais, denominado de
Grupo de Cantares e Tocares do Jardim da Serra Serra, acabaria
por ser nela integrada.
Figuras ilustres
De entre as figuras de maior destaque na freguesia haverá a destacar
Henry Veitch , que, pelo facto de ter construído nesta
localidade, uma casa de campo, a Quinta do Jardim da Serra, foi o
responsável pela sua projecção tanto a nível regional como mundial.
Henry Veitch, nasceu em Selkirk, na Escócia a 2 de Julho de 1782 e
faleceu no Funchal a 7 de Agosto de 1857. Apesar da tradição o dar
como sepultado na Quinta do Jardim da Serra, onde sua mulher Carolina
Joaquina Veitch mandou erigir um mausoléu, foi segundo o respectivo
termo de óbito, sepultado no Funchal no Old Burial Ground.
Foi Agente e Cônsul Geral de Sua Majestade Britânica entre 1809,
altura em que fixou residência no Funchal e 1838. Dedicou-se ao
comércio de vinhos, especialmente da casta de sercial, tendo feito
fortuna com o abastecimento de navios.
Veitch deixou vários imóveis entre os quais o actual edifício onde se
encontra instalado o Instituto do Vinho da Madeira; o edifício onde se
encontra instalado o Club Naval do Funchal e o edifício da Associação
Comercial do Funchal. A sua passagem pelo concelho de Câmara de Lobos
está assinalada pela por duas edificações: a Quinta do Jardim da Serra
e um edifício ainda hoje existente junto aos actuais paços do concelho
da Câmara Municipal de Câmara de Lobos e cuja construção remonta a
1856.
Está também a freguesia do Jardim da Serra associada ao nome do
Dr. Alberto Henriques de Araújo Araújo, advogado, deputado à
Assembleia Nacional durante vários mandatos e jornalista, natural do
Funchal, mas com ascendentes naturais da freguesia de Câmara de Lobos
e que na freguesia do Jardim da Serra, construiu a sua casa de campo,
conhecida por Quinta das Romeiras, isto numa referência ao local onde
se encontra implantada.
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Manuel
Pedro Freitas
Câmara de Lobos, sua gente, história e
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