Furneira
Sítio
primitivamente pertencente à freguesia do Estreito de Câmara de
Lobos [1],
mas que, com a criação, em 1996, da freguesia do Jardim da Serra,
acabaria por ficar repartido por estas duas freguesias.
A
sua denominação tem a ver com a existência de várias furnas na
localidade, algumas das quais, segundo a tradição, teriam servido
de habitação a mouros, que para ali se vieram fixar, sendo outras
utilizadas para a recolha de animais, apresentando as destinadas a
habitação características diferentes das destinadas a animais.
Relativamente
aos mouros, apesar de não existirem documentos que comprovem a sua
presença na localidade, a verdade é que as pessoas mais idosos,
com base em informações que lhe foram transmitidas oralmente por
seus pais e avós e a estes por sua vez de geração em geração,
afirmam peremptoriamente, a sua presença chegando até ao pormenor
de identificar alguns dos habitantes deste e de sítios limítrofes,
como seus descendentes.
Para
além de nalguns casos apresentarem traços fisionómicos similares
aos habitantes do norte de África, a estas famílias encontram-se
associadas comportamentos reveladores de alguma agressividade e que
são suficientes para que a generalidade da população que os
conhece, mantenha alguns cuidados no seu relacionamento com eles e só
à boca pequena se atrevam
a tecer comentários sobre as suas origens.
Ainda
que não se saiba ao certo a origem da comunidade tida como moura e,
acreditando-se como certa a sua presença nesta localidade, é possível
admitir que ela se tivesse constituído a partir de escravos que,
foragidos do povoado, ali se refugiaram. A presença, junto das
furnas, de infra-estruturas destinadas à conservação de
alimentos, é outra das provas de que estas terão em tempos sido
utilizadas como habitação.
Aliás,
a presença de mouros nesta região é ainda atestada pela toponímia,
que chamou de Banda de Mouro a um lugar, próximo da Furneira, no sítio
do Pomar Novo e onde uma lenda diz existir ali uma mina de ouro e
estar acorrentada e encantada uma moura, cujo desencanto constitui a
chave para a acessibilidade ao tesouro.
Este
lugar é referenciado pela existência de uma um talude de cor
amarelo ouro, donde brota água proveniente de uma nascente ai
existente.
Segundo
a lenda, para desencantar a moura e ter acesso ao tesouro que ela
guarda é necessário cumprir escrupulosamente um ritual que
consiste em lá ir um dia à meia-noite, provido de um gato ou
galinha preta, de uma garrafa de aguardente, ler uma determinada
passagem do livro de São Cipriano e cavar 7 palmos ou 7 passos
distante da nascente, em direcção a poente.
Contudo,
apesar de já várias tentativas terem sido efectuadas, para
desencantar a moura, o facto de talvez o ritual não ter sido
escrupulosamente cumprido, até hoje nunca foi possível fazer o
desencanto e tornar visível o tesouro.
|