“Quantas vezes o nosso
bom lavrador ao trincar a vide no podão pensará deste ou
semelhante modo: Agora começa a poda, logo após a adubação
e a seguir a empa. Depois de rebentar a vinha terei em mãos as contínuas
incómodas sulfatagens a que me obriga o Sr. míldio e as pulverizações
de enxofre que tanto me fazem arder os olhos quando à noite os procuro
cerrar para me entregar nos braços de Morfeu, e me roubam um bom
pedaço de sono que tanto me sabe depois de um dia deste trabalho!
Mas se fosse só isto! E as esfolhas! É verdade, também
as tenho de fazer.
Mas ainda não é
tudo, a cava da vinha também não a posso deixar para trás.
Ah! fortes dias de incómodo trabalho me vai dar ela! Quando penso
que terei de andar dias quase inteiros de joelhos a cavar debaixo das latadas
e, algumas vezes, até de rojo como uma cabra, enchendo a boca e
os pulmões de pó, fico com o miolo a andar à volta.
Mas depois disso é
preciso dar-lhe uma rega! E a água!
O sol tem secado as fontes
todas.... Se continuar esta estiagem como poderão as fontes rebentar?
E a pouca água que ainda fica por que preço a poderei comprar
por hora?
Depois de tanto trabalho
que me deixarão para vindimar o Sr. míldio mais o seu compadre
oídio e essa senhora a que chamam gota que agora também entendeu
se juntar aqueles nossos amigos para ajudá-los a dar cabo de uma
cultura que tanto trabalho nos custa?
No fim de tudo isto, por
quanto posso vender um barril de vinho?
Ai as minhas dívidas!
E os vendeiros não me querem já fiar mais.
Com o produto da minha
colheita poderei saldar as minhas contas?
Lá com o bordado
da minha mulher e das pequenas nem sequer conto, ele mal dá para
as linhas e para o sal que se deita no milhinho que ainda com muito custo
me fiam.
Isto vai dar bom valha-nos
Deus” .